Após um ano da tragédia que matou 132 pessoas no Grande Recife, marcas da destruição continuam nas áreas de risco
Governo do estado afirma que 130 pessoas recebem auxílio. Reportagem faz parte da série do NE1 'Reféns do Morro'. Rua Mariano Carneiro da Cunha, em Lagoa Encantada, no bairro da Cohab, Zona Sul do Recife Reprodução/TV Globo Um ano depois da tragédia que deixou 132 pessoas mortas em meio às fortes chuvas na Região Metropolitana do Recife, sobreviventes ainda cobram soluções para as áreas de risco e denunciam a falta de apoio. ???? Compartilhe no WhatsApp Na comunidade da Lagoa Encantada, no bairro da Cohab, Zona Sul do Recife, montanhas de barro compõem o cenário de uma das ruas mais afetadas, a Rua Mariano Carneiro da Cunha. Foi no mesmo bairro que Marcos André de Andrade Correia, acompanhou os últimos segundos da mãe, Dona Mana, que morreu soterrada. A reportagem faz parte da séria "Reféns do Morro", que revisita, após um ano, as famílias afetadas pelas chuvas que provocou a maior tragédia de Pernambuco do século. Dona Mana tinha saído da casa no dia 27 de maio de 2022, após a Defesa Civil recomendar o isolamento do local devido ao risco de desabamento. Ela, então, foi para a casa da amiga Sônia. Um dia depois, a casa de Sônia foi atingida por uma barreira. "Ficamos na UPA aguardando uma ambulância chegar para que ela fosse transferida para um hospital de maior porte, mas a viatura não conseguia passar por conta das chuvas. Ela morreu lá", lembra Marcos à TV Globo. ???? A casa dele é fica ao lado da casa da mãe. O imóvel não chegou a ser atingido, mas precisou ser desocupado devido ao risco de desabamento da barreira, que fica bem atrás. ???? Desde então, marcos paga R$ 600 de aluguel, o que recebe de auxílio moradia da prefeitura cobre apenas a metade do valor. ???? "Eles [prefeitura] dão um auxílio de R$ 300 que não dá para pagar uma casa, ainda tenho que completar com o meu salário", disse. Ele também afirma que não chegou a receber ajuda do governo do estado. "Eles falaram de uma pensão vitalícia, mas não deram suporte nenhum, nada mesmo", conta Marcos. Casa onde Marcos André morava fica em frente a uma barreira. Reprodução/TV Globo Na Lagoa Encantada, dezenas de casas estão desocupadas e alguns imóveis estão à venda, mas, apesar de não terem sido atingidos, estão em áreas de risco. Moradores que estão há anos na comunidade contam que de um ano para cá o silêncio tomou conta das ruas. "Todo mundo se reunia e era uma animação. Hoje, olho para a rua e vejo aquele vazio, não escuto barulho de crianças nem vozes. É triste", conta a cabeleireira Stela Gadelha Teixeira. A poucos metros, fica o Jardim Monte Verde, comunidade localizada no limite entre Jaboatão dos Guararapes e Recife, e foi o local em que morreu mais gente. Foram mais de 20 pessoas e, num único ponto, foram 17, sendo 11 delas da mesma família. Reginaldo Ramos Feitosa ainda guarda o capacete que a filha mantinha no carro dela. Thaís Regina Ramos Feitosa, de 31 anos, era recém-formada em engenharia, morava com os pais e tinha conseguido um emprego 15 dias antes. No dia 28 de maio, Reginaldo, a esposa e Thaís estavam em casa quando uma barreira desabou. O casal ficou soterrado até a cintura, já Thaís não resistiu. O corpo dela foi encontrado dois dias depois. Em entrevista à TV Globo, Reginaldo conta que a maior frustração é não ter conseguido salvar a filha. LEIA TAMBÉM: Moradores esperam solução para áreas de risco um ano após tragédia Relembre os 132 mortos pela tragédia das chuvas Total de vítimas ultrapassou os da cheia de 1975 Uma só família perdeu 11 pessoas Corpos de mãe e filha foram encontrados abraçados "Eu escutei um estalo, não é como se fosse um trovão, e o mundo desabou em cima da gente. Eu voltei para tirar ela, mas veio outro deslizamento e quase me soterra de novo. Me seguraram e não deixaram voltar, dizendo que eu ia morrer também", lembra Reginaldo. Já a mãe de Thaís, a empregada doméstica Eliane Martins de Oliveira, quebrou o joelho e passou por duas cirurgias. Ela continua com sequelas e anda com a ajuda de muleta. Os moradores do Jardim Monte Verde também afirmam que o governo do estado pouco fez no local após os deslizamentos e as mortes. Tragédia ⏩ Ao todo, mais de 120 mil pessoas foram afetadas no estado - entre mortos, desabrigados, desalojados e gente que perdeu tudo o que tinha pelos alagamentos dentro de suas casas. ⏩ Das 132 vítimas, o último corpo encontrado foi o de Mércia Josefa do Nascimento, no dia 3 de junho de 2022. Mércia morava no bairro do Areeiro, em Camaragibe, no Grande Recife. Foram sete dias de espera para a família. Ruth, irmã de Mércia, também morreu com o deslizamento e foi encontrada três dias antes da irmã. Ela estava em casa com os três filhos - Paulo, Paula e Pedro - que também ficaram soterrados, mas conseguiram sair dos escombros. "Foi Deus na minha vida, porque não entrava ar de forma nenhuma, fiquei soterrado de cabeça para baixo", disse filho, o assistente de expedição Pedro Henrique Soares, que passou mais de 30 minutos soterrado e foi resgatado por vizinhos. Um
Governo do estado afirma que 130 pessoas recebem auxílio. Reportagem faz parte da série do NE1 'Reféns do Morro'. Rua Mariano Carneiro da Cunha, em Lagoa Encantada, no bairro da Cohab, Zona Sul do Recife Reprodução/TV Globo Um ano depois da tragédia que deixou 132 pessoas mortas em meio às fortes chuvas na Região Metropolitana do Recife, sobreviventes ainda cobram soluções para as áreas de risco e denunciam a falta de apoio. ???? Compartilhe no WhatsApp Na comunidade da Lagoa Encantada, no bairro da Cohab, Zona Sul do Recife, montanhas de barro compõem o cenário de uma das ruas mais afetadas, a Rua Mariano Carneiro da Cunha. Foi no mesmo bairro que Marcos André de Andrade Correia, acompanhou os últimos segundos da mãe, Dona Mana, que morreu soterrada. A reportagem faz parte da séria "Reféns do Morro", que revisita, após um ano, as famílias afetadas pelas chuvas que provocou a maior tragédia de Pernambuco do século. Dona Mana tinha saído da casa no dia 27 de maio de 2022, após a Defesa Civil recomendar o isolamento do local devido ao risco de desabamento. Ela, então, foi para a casa da amiga Sônia. Um dia depois, a casa de Sônia foi atingida por uma barreira. "Ficamos na UPA aguardando uma ambulância chegar para que ela fosse transferida para um hospital de maior porte, mas a viatura não conseguia passar por conta das chuvas. Ela morreu lá", lembra Marcos à TV Globo. ???? A casa dele é fica ao lado da casa da mãe. O imóvel não chegou a ser atingido, mas precisou ser desocupado devido ao risco de desabamento da barreira, que fica bem atrás. ???? Desde então, marcos paga R$ 600 de aluguel, o que recebe de auxílio moradia da prefeitura cobre apenas a metade do valor. ???? "Eles [prefeitura] dão um auxílio de R$ 300 que não dá para pagar uma casa, ainda tenho que completar com o meu salário", disse. Ele também afirma que não chegou a receber ajuda do governo do estado. "Eles falaram de uma pensão vitalícia, mas não deram suporte nenhum, nada mesmo", conta Marcos. Casa onde Marcos André morava fica em frente a uma barreira. Reprodução/TV Globo Na Lagoa Encantada, dezenas de casas estão desocupadas e alguns imóveis estão à venda, mas, apesar de não terem sido atingidos, estão em áreas de risco. Moradores que estão há anos na comunidade contam que de um ano para cá o silêncio tomou conta das ruas. "Todo mundo se reunia e era uma animação. Hoje, olho para a rua e vejo aquele vazio, não escuto barulho de crianças nem vozes. É triste", conta a cabeleireira Stela Gadelha Teixeira. A poucos metros, fica o Jardim Monte Verde, comunidade localizada no limite entre Jaboatão dos Guararapes e Recife, e foi o local em que morreu mais gente. Foram mais de 20 pessoas e, num único ponto, foram 17, sendo 11 delas da mesma família. Reginaldo Ramos Feitosa ainda guarda o capacete que a filha mantinha no carro dela. Thaís Regina Ramos Feitosa, de 31 anos, era recém-formada em engenharia, morava com os pais e tinha conseguido um emprego 15 dias antes. No dia 28 de maio, Reginaldo, a esposa e Thaís estavam em casa quando uma barreira desabou. O casal ficou soterrado até a cintura, já Thaís não resistiu. O corpo dela foi encontrado dois dias depois. Em entrevista à TV Globo, Reginaldo conta que a maior frustração é não ter conseguido salvar a filha. LEIA TAMBÉM: Moradores esperam solução para áreas de risco um ano após tragédia Relembre os 132 mortos pela tragédia das chuvas Total de vítimas ultrapassou os da cheia de 1975 Uma só família perdeu 11 pessoas Corpos de mãe e filha foram encontrados abraçados "Eu escutei um estalo, não é como se fosse um trovão, e o mundo desabou em cima da gente. Eu voltei para tirar ela, mas veio outro deslizamento e quase me soterra de novo. Me seguraram e não deixaram voltar, dizendo que eu ia morrer também", lembra Reginaldo. Já a mãe de Thaís, a empregada doméstica Eliane Martins de Oliveira, quebrou o joelho e passou por duas cirurgias. Ela continua com sequelas e anda com a ajuda de muleta. Os moradores do Jardim Monte Verde também afirmam que o governo do estado pouco fez no local após os deslizamentos e as mortes. Tragédia ⏩ Ao todo, mais de 120 mil pessoas foram afetadas no estado - entre mortos, desabrigados, desalojados e gente que perdeu tudo o que tinha pelos alagamentos dentro de suas casas. ⏩ Das 132 vítimas, o último corpo encontrado foi o de Mércia Josefa do Nascimento, no dia 3 de junho de 2022. Mércia morava no bairro do Areeiro, em Camaragibe, no Grande Recife. Foram sete dias de espera para a família. Ruth, irmã de Mércia, também morreu com o deslizamento e foi encontrada três dias antes da irmã. Ela estava em casa com os três filhos - Paulo, Paula e Pedro - que também ficaram soterrados, mas conseguiram sair dos escombros. "Foi Deus na minha vida, porque não entrava ar de forma nenhuma, fiquei soterrado de cabeça para baixo", disse filho, o assistente de expedição Pedro Henrique Soares, que passou mais de 30 minutos soterrado e foi resgatado por vizinhos. Um ano depois, as três vidas que ficaram estão representadas na tatuagem que Paula fez em homenagem à mãe, Ruth. "Deus guardou nossa mãe, mas estamos livres para lutar pelo que ela fez por nós e para honrar ela por aqui", disse Paula. O que diz o governo Procurada pela TV Globo, a assessoria de imprensa do ex-governador Paulo Câmara (PSB) disse que: ???? Até o fim de 2022, 129 parentes de 99 vítimas recebiam a pensão regularmente; ???? Havia processos de regularização de parentes de outras 16 vítimas; ???? A pensão vale para companheiros das vítimas e filhos; ???? O pagamento é feito até os filhos completarem 21 anos. Já a governadora Raquel Lyra (PSDB) afirmou que: ⏩ 130 pessoas recebem esse benefício hoje; ???? Não se trata de uma pensão vitalícia, e sim de um benefício continuado, regulamentado em um decreto de 17 de junho do ano passado; ❌ No caso de Marcos André, o processo de análise de concessão concluiu que ele não estava apto a receber o benefício. O que dizem as prefeituras Prefeitura do Recife Em entrevista no NE1 desta segunda-feira (29), o secretário municipal de Planejamento e coordenador do Centro de Operações do Recife, Felipe Matos, falou que: ????️ "A prefeitura deu início a 45 obras de contenção de encostas, que hoje estão em andamento. Ontem [domingo], inclusive foi dado início a mais 25 obras, então a gente deve chegar num total de 70 obras ao mesmo tempo." ???? "Hoje a gente tem cerca de 14 mil pontos de risco na cidade, divididos entre risco 4, 3, 2 e 1. A gente está fazendo projetos para todas as encostas de risco 4, já temos esses projetos em andamento, são cerca de 450 encostas em projetos, onde a gente espera dar início a essas intervenções ao longo dos próximos meses." ????️ "A prefeitura segue fazendo o levantamento dessas áreas, tentando identificar as famílias em risco. No que for possível, retirar essas famílias dessas localidades para elaborar os projetos e para que essas localidades possam voltar a ser habitadas." A Prefeitura de Camaragibe afirmou que: ???? Construiu 12 muros de arrimo; ???? Há licitações em andamento para obras de contenção de encostas no bairro de Areeiro e no Alto Santo Antônio, em um serviço de R$ 3,5 milhões, com recursos do governo federal; ???? 44 famílias receberam auxílio moradia de R$ 300 reais por seis meses, que foram prorrogados por mais seis meses. Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes Procurada pela TV Globo, a prefeitura de Jaboatão não respondeu até a última atualização desta reportagem. 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