O papel que conta histórias: indústrias gráficas de MS se aliam à tecnologia e resistem sustentáveis
Da máquina tipográfica à impressão digital, empresários de Mato Grosso do Sul vivenciaram as transformações no setor gráfico. Unindo meio ambiente e práticas sociais, indústrias familiares se mantém lucrativas e no caminho para serem socioambientais. Neutralizar carbono é uma das iniciativas que podem ser adotadas por empresas que adotam ESG. Gustavo Arakaki Fim dos anos 1980, começo da última década do século passado. O cenário se repetia nas indústrias gráficas em Mato Grosso do Sul. Uma porta se abria, o bafo quente do calor era a primeira sensação no rosto. O barulho das máquinas chegava a ser ensurdecedor. No primeiro puxar de ar, o odor forte de gasolina tomava conta do nariz. Nas mãos de quem trabalhava, tintas tóxicas eram as únicas possíveis para os serviços. A cada cor que passava, outro banho de combustível era necessário para tirar os resíduos. Trabalhadores com tipos unitários montavam frases, que não tão cedo iam se tornar uma página para impressão. As memórias nos parágrafos acima são dos empresários Altair da Graça Cruz, proprietário da Gráfica Oriente, e de Julião Flaves Gaúna, dono da Gráfica Pontual. Ambos os empreendimentos, em Campo Grande. Agora, o ano é 2023, os empresários receberam o g1 para relembrar das paixões pelas artes gráficas, que continuam as mesmas. Mas apresentam um cenário completamente diferente do passado, não tão distante. Neste presente, as indústrias gráficas são aliadas à tecnologia e percorrem um caminho mais digno, ecologicamente correto, socialmente justo e de visão empresarial clara. Resistindo as grandes transformações no setor, as gráficas de Mato Grosso do Sul prosseguem no ofício, mas de forma sustentável. Assista ao vídeo abaixo. Indústria gráfica de MS: resistência e sustentabilidade Nesta reportagem, você vai ler: ????✍️O papel que conta histórias: do tipo à impressão digital ????????Pequenas atitudes fazem grandes negócios sustentáveis ????????Indústria gráfica resiste de forma sustentável e olha para outras possibilidades ????????As gráficas em Mato Grosso do Sul ????????O caminho do ESG para as pequenas indústrias ♨️????Plano Carbono Neutro: aliado para um mundo mais verde O papel que conta histórias: da tipografia à impressão digital Máquina do estilo tipográfica. Gustavo Arakaki Pegar uma folha de papel A4 e levá-la à impressão parece fácil. Essa forma de comunicação começou muito antes do alemão Gutenberg inventar a prensa móvel e fazer as primeiras tiragens da Bíblia. A professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e especialista em design gráfico, Rafaella Peres, explica que a impressão que conhecemos atualmente é resultado de um processo milenar. Tudo começou quando se precisava passar informação de um suporte para o outro. Os processos poderiam ser os mais variados, mas a finalidade era a mesma. A especialista acredita na contribuição da impressão para disseminação de conhecimento e ampliação de possibilidades. Rafaella explica que tudo começou com a técnica da xilografia em argila, madeira e depois o metal. A Revolução Industrial fez com que os processos de impressão se desenvolvessem e se transformassem de forma acelerada. “A técnica litográfica somada a criação da prensa cilíndrica a vapor são outro ponto importante do processo evolutivo da impressão, impactada, na sequência, pela apresentação da impressão rotativa e da fotografia”. Dos tipos móveis, a máquina de Linotipo. Rafaella fala sobre o processo de agilização na composição. Anos após, foi inventada a máquina impressora rotativa em 4 cores, “precursora da impressão offset, que se consolidou um pouco mais de dez anos depois. A impressão offset, portanto, é uma das formas mais tradicionais da indústria gráfica”. De representante comercial a empresário: Julião aposta na sustentabilidade para indústria Foi em 1982 que a Gráfica Pontual chegou ao mercado de Campo Grande. Ainda com máquinas muito rudimentares, os processos tinham tempos determinados, longos períodos. Julião Flaves Gaúna chegou ao empreendimento em 1986. O início foi como representante comercial. Assista ao vídeo acima. Julião rodava por toda Campo Grande oferecendo os produtos e serviços da gráfica. Entre uma venda e outra, o sonho de ser proprietário da indústria foi aumentando. As consequências da vida, como o próprio empresário fala, o levaram a ser sócio da gráfica e, logo depois, ser proprietário. Foi então que a “paixão à primeira vista” começou a florescer. “Foi uma paixão à primeira vista. A gráfica me deu tudo o que precisava. Na vida viemos para trabalhar, para constituir família, ganhar dinheiro e também buscar o bem-estar das pessoas, no coletivo. A gráfica me deu essa oportunidade de pensar no coletivo”. O dono da Gráfica Pontual viu na indústria a possibilidade de crescer, ganhar dinheiro e fazer a vida dele e da família. Julião assumiu a empresa em um momento crucial, as grandes indústrias gráficas de São Paulo já se despontavam nas impressões com o modelo digital. E
Da máquina tipográfica à impressão digital, empresários de Mato Grosso do Sul vivenciaram as transformações no setor gráfico. Unindo meio ambiente e práticas sociais, indústrias familiares se mantém lucrativas e no caminho para serem socioambientais. Neutralizar carbono é uma das iniciativas que podem ser adotadas por empresas que adotam ESG. Gustavo Arakaki Fim dos anos 1980, começo da última década do século passado. O cenário se repetia nas indústrias gráficas em Mato Grosso do Sul. Uma porta se abria, o bafo quente do calor era a primeira sensação no rosto. O barulho das máquinas chegava a ser ensurdecedor. No primeiro puxar de ar, o odor forte de gasolina tomava conta do nariz. Nas mãos de quem trabalhava, tintas tóxicas eram as únicas possíveis para os serviços. A cada cor que passava, outro banho de combustível era necessário para tirar os resíduos. Trabalhadores com tipos unitários montavam frases, que não tão cedo iam se tornar uma página para impressão. As memórias nos parágrafos acima são dos empresários Altair da Graça Cruz, proprietário da Gráfica Oriente, e de Julião Flaves Gaúna, dono da Gráfica Pontual. Ambos os empreendimentos, em Campo Grande. Agora, o ano é 2023, os empresários receberam o g1 para relembrar das paixões pelas artes gráficas, que continuam as mesmas. Mas apresentam um cenário completamente diferente do passado, não tão distante. Neste presente, as indústrias gráficas são aliadas à tecnologia e percorrem um caminho mais digno, ecologicamente correto, socialmente justo e de visão empresarial clara. Resistindo as grandes transformações no setor, as gráficas de Mato Grosso do Sul prosseguem no ofício, mas de forma sustentável. Assista ao vídeo abaixo. Indústria gráfica de MS: resistência e sustentabilidade Nesta reportagem, você vai ler: ????✍️O papel que conta histórias: do tipo à impressão digital ????????Pequenas atitudes fazem grandes negócios sustentáveis ????????Indústria gráfica resiste de forma sustentável e olha para outras possibilidades ????????As gráficas em Mato Grosso do Sul ????????O caminho do ESG para as pequenas indústrias ♨️????Plano Carbono Neutro: aliado para um mundo mais verde O papel que conta histórias: da tipografia à impressão digital Máquina do estilo tipográfica. Gustavo Arakaki Pegar uma folha de papel A4 e levá-la à impressão parece fácil. Essa forma de comunicação começou muito antes do alemão Gutenberg inventar a prensa móvel e fazer as primeiras tiragens da Bíblia. A professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e especialista em design gráfico, Rafaella Peres, explica que a impressão que conhecemos atualmente é resultado de um processo milenar. Tudo começou quando se precisava passar informação de um suporte para o outro. Os processos poderiam ser os mais variados, mas a finalidade era a mesma. A especialista acredita na contribuição da impressão para disseminação de conhecimento e ampliação de possibilidades. Rafaella explica que tudo começou com a técnica da xilografia em argila, madeira e depois o metal. A Revolução Industrial fez com que os processos de impressão se desenvolvessem e se transformassem de forma acelerada. “A técnica litográfica somada a criação da prensa cilíndrica a vapor são outro ponto importante do processo evolutivo da impressão, impactada, na sequência, pela apresentação da impressão rotativa e da fotografia”. Dos tipos móveis, a máquina de Linotipo. Rafaella fala sobre o processo de agilização na composição. Anos após, foi inventada a máquina impressora rotativa em 4 cores, “precursora da impressão offset, que se consolidou um pouco mais de dez anos depois. A impressão offset, portanto, é uma das formas mais tradicionais da indústria gráfica”. De representante comercial a empresário: Julião aposta na sustentabilidade para indústria Foi em 1982 que a Gráfica Pontual chegou ao mercado de Campo Grande. Ainda com máquinas muito rudimentares, os processos tinham tempos determinados, longos períodos. Julião Flaves Gaúna chegou ao empreendimento em 1986. O início foi como representante comercial. Assista ao vídeo acima. Julião rodava por toda Campo Grande oferecendo os produtos e serviços da gráfica. Entre uma venda e outra, o sonho de ser proprietário da indústria foi aumentando. As consequências da vida, como o próprio empresário fala, o levaram a ser sócio da gráfica e, logo depois, ser proprietário. Foi então que a “paixão à primeira vista” começou a florescer. “Foi uma paixão à primeira vista. A gráfica me deu tudo o que precisava. Na vida viemos para trabalhar, para constituir família, ganhar dinheiro e também buscar o bem-estar das pessoas, no coletivo. A gráfica me deu essa oportunidade de pensar no coletivo”. O dono da Gráfica Pontual viu na indústria a possibilidade de crescer, ganhar dinheiro e fazer a vida dele e da família. Julião assumiu a empresa em um momento crucial, as grandes indústrias gráficas de São Paulo já se despontavam nas impressões com o modelo digital. Entretanto, no cenário de Campo Grande, a forma de impressão de larga escala, a offset, dominava. “A gráfica dá uma velocidade de raciocínio absurda. Quando assumi, a gráfica tinha que fazer mudanças. Assim que peguei demos um salto direto para o digital. Os investimentos sempre foram altos. Mas sempre trabalhamos com perspectivas. Alguns destes investimentos podem ter sido considerados como perrengues, mas eles fizeram a gente crescer”. Altair viu indústria se transformar e caminhar para destino sustentável Entre saltos temporais e mudanças no setor, Altair da Graça Cruz viu várias transformações. Hoje, proprietário da Gráfica Oriente, o começo foi bem diferente. O início no ramo foi no chão, mas não um qualquer, no chão da fábrica. Veja o relato do empresário no vídeo acima. Com 13 anos, Altair entrou como contínuo em um jornal impresso de Campo Grande. Logo depois, com 18 anos, o então jovem seguia rumo ao trabalho na gráfica no mesmo grupo de comunicação. O trabalho era manual, a função era de chapista. Altair juntava o grande quebra-cabeça antes de ir para a impressão. LEIA TAMBÉM Indústria de MS exporta mais de meio bilhão de dólares e registra recorde histórico de receita Setor industrial gerou 7,3 mil novos postos de trabalho em MS em 2023 Diferente do caminho do país, indústria de MS tem avanço de 4,5% em janeiro deste ano Letra por letra, fio por fio, assim chegava-se a um parágrafo, que em algumas horas depois do início do trabalho, se tornava uma página. “Fazia notas fiscais e formulários. Juntava letra por letra em uma forma. Depois de montar a página toda, aí sim ia para impressão. Para fechar uma folha A4 demorava 4h, isso para uma pessoa de larga experiência. Um outro profissional, de outro momento, demorava 8h. Eram letrinhas por letrinhas, espaço por espaço, fios por fios”, relembra de forma saudosa. Páginas eram montadas de forma manual. Gustavo Arakaki Depois de tanto tempo nas fábricas, Altair resolveu montar o próprio negócio. A Gráfica Oriente nasceu em 1991. As mudanças das máquinas tipográficas para a offset, e depois para a impressão digital, foram vividas pelo antigo chapista e atual empresário. Altair fala com paixão do passado como chapista. Ao relembrar dos tipos, começa a olhar para os dedos e dá exemplo prático aos millennials que não vão ver uma máquina tipográfica. O empresário fala do conservadorismo do setor com as práticas mais antigas, porém, vê as tecnologias como aliadas ao processo de desenvolvimento industrial gráfico. “A gente brinca que nós somos muito conservadores com o nosso trabalho. Com a evolução do setor da tecnologia, um exemplo prático era quando montamos as artes. Começou a vir máquinas e os primeiros computadores. Achava que os computadores iam tirar serviço da indústria gráfica. Mas os computadores vieram mais para agregar a produção do que para tirar. Imagina levar de 4h a 8h para montar uma chapa?”, brinca Altair. Clique aqui e volte ao menu da reportagem. Pequenas atitudes fazem grandes negócios sustentáveis Gasolina ficou no passado, agora empresários utilizam biodegradáveis para limpar máquinas de impressão. Gustavo Arakaki O meio ambiente não era uma das maiores preocupações nas empresas de Altair e Julião. O lixo, por exemplo, era descartado junto com outros resíduos, colocados na calçada e recolhidos pelos garis de Campo Grande. As rebarbas dos papéis não eram reutilizadas e a reciclagem era algo distante. Nas duas empresas, a gasolina era o material considerado como “ideal” para limpar as máquinas. Altair relembra que, por semana, eram 20 litros de gasolina utilizados para limpar as máquinas. As impressões são feitas em um sistema de quatro cores, uma por vez. A cada momento que uma tinta era utilizada, mais gasolina era preciso para fazer a remoção. Outra cor, mais gasolina. Assim por diante. As impressões eram feitas em grande escala. O preço dos materiais eram mais atrativos se pensado em uma tiragem maior, mais robusta. O que sobrava ia para o lixo também. As pequenas indústrias resistiram às transformações impostas pela tecnologia e seguiram por um caminho sustentável. Na Gráfica Orienta, onde Altair é proprietário, a gasolina foi abandonada há um bom tempo. Hoje, além da máquina ter capacidade de rodar as quatro cores no mesmo serviço, a limpeza é feita por um sistema integrado e com produto biodegradável. “Quando compramos nossa primeira máquina offset, não tinha uma preocupação de geração de resíduos. O maquinário era lavado a cada cor e higienizado com gasolina. Cada etapa era uma quantidade enorme. O odor era terrível, mas era o que tinha. Com o passar do tempo começaram a aparecer os solventes. Depois de 5 anos vieram os biodegradáveis. Hoje até as tintas são livres de odor forte. Usamos um produto que dispensa até o álcool”, detalha Altair. Máquinas imprimem as quatro cores direto. Gustavo Arakaki Altair explica que a indústria é de pequeno porte e começou a adotar práticas sustentáveis há alguns anos. Escolher por mudanças que impactam menos no meio ambiente foi a opção para concentrar energias e recursos. “Antes usávamos por semana 20 litros de gasolina. Isso dependia da demanda. Em época de campanha, era pior. Isso dependia da quantidade de cor dos produtos. Não dava para pegar um material hoje e entregar amanhã. Hoje a máquina quatro cores passa as quatro cores. Hoje a lavagem na máquina é só uma vez por dia e sem gasolina. Antes, cada cor era uma história”. Todo o lixo produzido na empresa é reciclado, como também é na Gráfica Pontual, do Julião Gaúna. “Todos os resíduos da indústria gráfica têm destino adequado. Antes, os resíduos eram colocados na calçada e iam para o lixão. Hoje, temos uma empresa que vem toda semana recolhendo e levando para reciclagem. Em outros tempos, a limpeza dos equipamentos era feita de maneira primária. Hoje temos líquidos adequados. Os produtos eram muito tóxicos, mas agora temos uma outra realidade. Essa realidade é de acordo com o meio ambiente”. Além da reciclagem, Julião adota na indústria a logística reversa e prevê em todos os contratos o recolhimento de materiais que não foram utilizados para serem descartados corretamente. Todos materiais que são refilados têm como destino a reciclagem. Gustavo Arakaki A impressão por demanda surgiu como uma oportunidade de atender o cliente com o produto na quantidade necessária. A utilização de mais matéria-prima é mitigada e menos lixo é gerado, como Julião explica. “Aqui fazemos impressão por demanda. Qualquer necessidade, atendemos os clientes naquilo que eles precisam. Em outros tempos, a gráfica era por escala. O cara comprava muito mais por causa do custo unitário. Hoje atendemos por demanda. Antes, quando o cliente não usava, ele jogava fora. Agora entregamos aquilo que o cliente precisa. Nós temos o processo de logística reversa. Nosso contrato já prevê o recolhimento e o descarte adequado. Quando há sobra, cortamos os papéis e a reciclagem recolhe o papel”, comenta. Clique aqui e volte ao menu da reportagem. Indústria gráfica resiste de forma sustentável e olha para outras possibilidades Tintas utilizadas para imprenssão não são tóxicas. Gustavo Arakaki Logística reversa; Reciclagem do lixo; Utilização de biodegradáveis; Recursos reutilizáveis; Descarte consciente; Consumo sob demanda. Todos os itens acima puderam ser vistos nas duas empresas visitadas pelo g1. O professor do Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais da UFMS Alexandre Meira explica que o olhar apurado do gestar industrial para práticas sustentáveis é um ponto válido. Alexandre dá o exemplo da logística reversa, que é uma forma de “fechar a cadeia produtiva”, que minimiza os impactos negativos no meio ambiente. O professor comenta que a consciência do empresário é individual e gera benefício pensando no outro, no coletivo. “Temos que pensar no aproveitamento máximo do papel. Podemos pensar em origens mais sustentáveis para os materiais. Temos que buscar design mais sustentáveis para os projetos. As indústrias gráficas devem buscar também pela área de energia renovável, como a energia solar ou outras fontes de energia sustentáveis. Fazer a gestão dos resíduos deve ser reaproveitado. O caminho para isso é a logística reversa, que usa produtos que já foram para o fim e voltam quando há sobra. O caminho vai e volta. Com isso, necessita menos de matéria-prima virgem”. A bióloga e professora da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia da UFMS Karina OCampo Righi Cavallaro é detalhista ao falar sobre a adoção dos diferentes conceitos que auxiliam na minimização do impacto ambiental. A professora comenta que, além de poupar a natureza da extração inesgotável de recursos, a adoção das medidas mais sustentáveis fazem parte de uma mudança cultural. Mesmo com muita tecnologia, produção gráfica ainda tem trabalho manual. Gustavo Arakaki “Em especial, a indústria gráfica, o descarte incorreto das tintas e solventes utilizada seria um dos maiores agravantes na poluição ambiental. Desta forma, o descarte ambiental correto associado a utilização de tintas atóxicas, e de papéis produzidos com madeiras certificadas seria um modelo interessante, pensando em ações sustentáveis. A aplicação desses conceitos, atende vários princípios da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, entre eles a responsabilidade compartilhada, a empresa sendo responsável por tomar ações individualizadas em relação ao ciclo de vida dos produtos comercializados e utilizados. Vale ressaltar que para que esses conceitos sejam aplicados de forma contínua, há a necessidade da conscientização e sensibilização de todos os envolvidos no processo. A participação efetiva de todos é de grande valia para alcance de bons resultados, somado ao monitoramento das ações e melhoria contínua”. A consciência empresarial e o pensamento coletivo são benefícios para ação em prol do meio ambiente. Pensar para além do lixo, do descarte final ou do consumo exacerbado é um movimento maior, pensando no coletivo, como frisa o professor Alexandre. O especialista salienta que as indústrias que pensam em práticas mais sustentáveis estão inseridas na sociedade como coletivo. “Quando um empresário é consciente, ele pensa que a indústria está inserida em uma sociedade e uma coletividade para além da empresa. Quando se faz a gestão dos resíduos, tem-se a consciência mais ampla daquele que não faz. Isso gera uma boa imagem para organização, mas também receita para empresa. Jogar no lixo pode ser uma perda no mercado. Os produtos são ricos em potencial de reaproveitamento. A visão mais circular é importante. Introduzem a matéria-prima na cadeia e utilizam ela até não poder ser utilizada mais. O movimento é grande em prol de um objetivo muito maior”. Julião e Altair, os empresários das gráficas visitadas, afirmam que o próximo passo nos estabelecimentos é pensar na utilização de energia renovável. Ambos os empresários se dizem antenados ao mercado que oferece produtos cada vez mais sustentáveis ao setor gráfico. A professora Karina dá outras opções para que o segmento continue na toada de sustentabilidade: Uso de papéis certificados; Tratamento e descarte correto de cartuchos; Ajuste nas impressoras para gerar o mínimo de aparas; Redução nas perdas de impressão e na quantidade de limpeza; Boas práticas na gestão de resíduos, como segregar, acondicionar e armazenar adequadamente as aparas de produção, por tipo de destinação. Clique aqui e volte ao menu da reportagem. As gráficas em Mato Grosso do Sul Gráficas em Mato Grosso do Sul. Gustavo Arakaki Disparado, a maioria das indústrias gráficas de Mato Grosso do Sul são de micro porte. Das 252 empresas identificadas pela Relação Anual de Informações Sociais (Rais), 92% são estabelecimentos de 0 a 9 funcionários, o que fazem ser classificados como micro-indústrias. Os dados mais recentes são de 2021. Ao todo, em Mato Grosso do Sul são 4 grandes segmentos de atuação. São eles: Atividade de impressão; Pré-impressão e acabamentos gráficos; Edição de livros, jornais, revistas e outras atividades de edição; Edição integrada à impressão de livros, jornais, revistas e outras publicações. Conheça mais da indústria gráfica de Mato Grosso do Sul no infográfico abaixo: Dados: indústrias gráficas em Mato Grosso do Sul. José Câmara São 1.200 trabalhadores formais ligados ao setor da indústria gráfica do estado. O perfil dos funcionários é variado. O número de pessoas que dependem das indústrias pode ser ainda maior do que o dos empregados. Veja o perfil dos funcionários da indústria gráfica no infográfico abaixo: Perfil dos funcionários das indústrias gráficas e Mato Grosso do Sul. José Câmara Clique aqui e volte ao menu da reportagem. O caminho do ESG para as pequenas indústrias ESG começa ser aplicado em indústrias gráficas de Mato Grosso do Sul. Gustavo Arakaki Existe um ditado popular muito conhecido: “de grão em grão, a galinha enche o papo”. Usar o dito em comparação às recentes adoções de práticas sustentáveis pelas indústrias é possível. A mudança já começou e vem sendo propagada. A empresa de Julião, a Gráfica Pontual, é considerada de pequeno porte. Na indústria há 15 funcionários. O local segue um ritmo intenso de produção, entretanto muito particular. As mais de 10 máquinas são complementos dos trabalhos manuais dos colaboradores. Como, também é na Gráfica Oriente. De porte familiar, a indústria de Altair tem 7 funcionários. ESG: mudança cultural é necessária para manter negócios Adotar as medidas mais sustentáveis nas duas indústrias foram missões para se inserirem em uma cultura corporativa, o ESG. Traduzindo para o português, a sigla significa Environment - Meio Ambiente; Social - Social; Governance - Governança. Assista ao vídeo acima e entenda o significado por trás das três letras e conheça as aplicações na indústria gráfica. Escolher o Meio Ambiente como foco foi uma estratégia nas duas indústrias. “A mudança, até por sermos uma empresa familiar, é mais lenta. Nós atuamos e escolhemos priorizar a parte ambiental, não conseguimos abraçar o mundo. Hoje, a nossa empresa escolheu priorizar a questão ambiental. A minha preocupação é essa neste momento”, declarou Altair. A assessora do núcleo de ESG da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS), Cláudia Borges, contextualiza o setor gráfico e explica que a transformação cultural é paulatina, ainda mais nas empresas de micro e pequeno porte. “Primeiro, este setor passou por grandes mudanças, inclusive pautadas pela digitalização. O setor teve que se adequar e mudar seus modelos de negócio para se manterem no mercado. Os pequenos sofreram para se mantiverem. É um nicho, mas vemos consumidores buscando produtos que tenham apelo mais sustentável. Se as empresas tiverem estratégia para mostrar aos clientes que isso é um diferencial é algo que é pensado no futuro, podemos ver como um ganho”. Práticas são aplicadas aos poucos nas indústrias gráficas. Gustavo Arakaki Optar pelo questão ambiental foram os primeiros passos de Altair e Julião. Outras empresas, de outros portes, possuem preferências diferentes e começam de maneira distinta. Cláudia vê empresários de pequenas indústrias adotarem pensamento mais relutante contra as práticas do ESG. “Hoje vejo nos pequenos muita resistência para transformação e pensar novas formas de atuação, já que isso faz com que altere toda a cadeia. O ESG veio para ficar. Quem não mudar dessa forma e não tiver critérios para uso de recursos naturais, melhoria nos colaboradores e atitudes sociais, não vai se manter. As empresas têm papel fundamental para contribuir para a agenda e pensar no futuro. Para os pequenos pode ser mais difícil, mas temos parceiros e pessoas para ajudar”. A adoção cultural do ESG pode ser vista como uma jornada. Altair e Julião estão juntos construindo um caminho mais verde e sustentável. Os próximos passos das indústrias gráficas é pensar em práticas que englobam as outras letras da sigla. Alexandre, professor da UFMS e especialista em recursos naturais, corrobora com a analogia que envolve a galinha e o grão. “As indústrias gráficas são de pequenos portes e familiares. Essas indústrias são importantes na cadeia ecológica. As ações, ainda que mínimas, são importantes para o processo de sensibilização. Os proprietários olham para isso como uma questão importante para o meio ambiente e para o negócio”. A ação de escolher pela medida é pessoal e do empresário. Como Cláudia detalha, a inserção cultural não é mais uma escolha, mas sim uma realidade. A assessora explica que a FIEMS tem sido parceira no desenvolvimento e colaboração para que os empresários, do porte que forem, adotem as medidas. “Na FIEMS vemos o ESG como uma jornada. Vamos desde a questão do entendimento da agenda. A partir disso, trabalhamos com os recursos que a empresa tem. Trabalhamos para que a empresa trilhe um caminho para que lá na frente, a empresa como um todo olhe e fale do tanto que mudou. Não tem como a empresa fazer tudo ao mesmo tempo. Os processos são custosos e longos, alguns requerem investimento. É uma jornada de curto, médio e para outros de longo prazo. A escolha do empresário é fundamental, com planos e metas para seguir”. Clique aqui e volte ao menu da reportagem. Plano Carbono Neutro: aliado para um mundo mais verde Indústria gráfica resiste a mudanças e caminha de forma sustentável. Gustavo Arakaki Além das transformações a favor do meio ambiente e da sociedade, Julião e Altair foram pioneiros em um processo que começa a ser trilhado em Mato Grosso do Sul. Os dois empresários foram um dos primeiros a assinarem o Programa do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Mato Grosso do Sul (Senai-MS) de Carbono Neutro. Julião e Altair estão em processo de inventário de todos os itens que geram carbono nas indústrias. O inventário serve como guia para que os empresários compensem as pegadas de CO2 emitidos pelas fábricas. “O Senai chegou e nos propôs para sermos piloto no plano de Carbono Neutro. Estamos fazendo um levantamento para saber sobre a nossa produção de carbono. Colocamos no inventário o consumo de energia, combustível, extintores de incêndio, gás de cozinha e outros itens. Incluímos os itens que serão neutralizados. O Senai vai estimar a quantidade para neutralização e nos colocar em contato com quem tem o crédito”, diz Altair. Em Mato Grosso do Sul, o programa é encabeçado pelo diretor-regional do Senai-MS, Rodolpho Caesar Mangialardo. A implementação e o pioneirismo do setor gráfico fazem com que os pensamentos dos empresários do ramo sejam reformulados a cada transformação. Setor das indústrias gráficas é pioneiro para selo Carbono Neutro. Gustavo Arakaki “Por ser um setor conservador, ele está sempre à frente pautado nas tecnologias. É um setor que está na berlinda do desenvolvimento do estado. Quando falamos nos grandes investimentos vindos ao estado pela área de celulose, o setor gráfico está sendo impactado. Será que vou imprimir algo daqui 10 anos? Essa é a pergunta dos empresários do ramo gráfico em Mato Grosso do Sul. O papel não vai acabar, mas poderá haver uma remodelação. Os empresários vão poder imprimir copos de papel, garrafas de papel e outros produtos. A indústria gráfica em Mato Grosso do Sul está muito atrelada à questão ambiental. O setor está implementando toda a parte de ESG, onde tentam reciclar a maior parte de papéis e adotar a logística reversa”, expressa Rodolpho. Ao g1, o representante do Senai-MS explica sobre a plataforma que vai realizar o “match verde”, que vai ligar empresários que emitem carbono àquelas pessoas que possuem crédito para neutralizar o gás poluente. “A plataforma vai ser lançada. O sistema está pronto com a tecnologia do blockchain. Estamos prontos para receber os inputs de qualquer CPF ou CNPJ no estado. Posso entrar na plataforma e informar se quero ser carbono neutro ou não. Vou poder saber se posso comercializar o carbono das propriedades. Vamos ligar as pessoas que possuem crédito de carbono e quem precisa comprar. Vamos fazer este match para neutralizar carbono, e com o certificado de carbono neutro em Mato Grosso do Sul”. Uso de equipamentos são incluídos em inventário para neutralização de carbono. Gustavo Arakaki Rodolpho compartilha que a medida do Senai-MS será propulsora e ajudará Mato Grosso do Sul bater a meta de ser “Carbono Neutro” até 2030. No programa, 38 assinaturas já foram feitas. Diferentes indústrias assinaram o acordo, a maioria são dos setores de alimentos, plástico e área gráfica, de acordo com o representante. Agora, a ideia é aumentar e possibilitar o acesso a mais pessoas, sejam empresários ou não. Até então, as assinaturas ao Plano Carbono Neutro foram feitas de forma direta, provocadas pelo próprio Senai-MS. “Ainda não conseguimos abrangência grande da área comercial. Agora estamos fazendo uma busca ativa para formularmos os inventários. A partir daí, podemos comercializar. Se falarmos em toneladas, falamos em 80 mil toneladas de carbono que já foram inventariadas e 60 mil toneladas de crédito de carbono disponíveis. Temos mais emissão do que o crédito, mas isso explico que é porque temos trabalhado mais neste inventário. Depois vamos virar a chave e buscar os créditos”. O trabalho de conscientização junto aos empresários do ramo comercial e industrial é feito aos poucos. Rodolpho comenta que explicar sobre o Carbono Neutro é tarefa difícil. “É um modelo novo que pode assustar. Estamos nos preparando para ajudar que possamos ser Carbono Neutro muito antes de medidas mais duras. Fazemos um trabalho de formiguinha e diário. 100% mudança cultural. Não é algo palpável”. ESG, mais que uma escolha, uma necessidade. Gustavo Arakaki O caminho é trilhado de mãos dadas. Empresários, especialistas, sociedade e entidades de base juntos. O destino também é um só: um mundo mais consciente e disposto às novas gerações. Altair e Julião comentam a integração e possuem fixos pensamentos em um único futuro, bem presente, melhor. “Temos que fazer que todos sejam integrados ao contexto que existe hoje. De grão em grão, chegamos ao caminho certo. Se todos fizerem a mesma coisa, chegamos ao local certo. Assim que vemos a visão do ESG”. “A preocupação é em geral do mundo em que vivemos, com grandes catástrofes e desmatamento, essa preocupação é sobre o mundo melhor que queremos deixar para os nossos filhos e netos”, almeja Altair. Clique aqui e volte ao menu da reportagem. Veja vídeos de Mato Grosso do Sul: